O movimento de retração do Estado nas políticas culturais e avanço da lógica de mercado tem consequências para o trabalho artístico, forçando um empreendedorismo cultural precário

Compreender a política cultural brasileira nas últimas décadas passa pela necessidade de se entender o lugar e a forma pela qual o Estado se insere na produção destas políticas. Nesse sentido, a ideia permanente de “crise” e, consequentemente, da necessidade de reformas, impõe ao setor cultural condições adversas para o seu desenvolvimento por meio das políticas públicas, reforçando os mecanismos privados de financiamento da cultura no Brasil.
Este é o esforço do artigo Política cultural e “crise” no governo Temer, de Amanda Coutinho de Cerqueira, publicado no Vol. 55, n.1, da Revista Novos Rumos, de 2018. A partir do entendimento da dimensão estrutural da crise do capital, a autora indica que
Ao contrário da perspectiva do capitalismo organizado, o filósofo húngaro István Mészáros (2009) entende que a substância das crises (crise especulativa, crise bancária, crise financeira etc.) vem de fundamentos estruturais e sistêmicos. Para o autor,o capitalismo vive uma permanente crise estrutural, uma vez que,por não ter limites para a sua expansão, acaba por converter-se em uma processualidade profundamente destrutiva. As contradições fundamentais, no entanto,são tratadas como disfunções passageiras. E é assim que, de tempos em tempos, para a sua auto-reprodução, o capitalismo é chamado a reestruturar-se para redefinir e assegurar seus padrões de acumulação e rentabilidade.
CERQUEIRA, Amanda P. C. Política cultural e “crise” no governo Temer. Revista Novos Rumos, Marília, v. 55, n.1, 2018.
Assim, a hegemonia neoliberal transfere a cultura para o mercado, reforçando os mecanismos associados ao desempenho, lucratividade e, sobretudo, de responsabilização individual pelos ganhos e prejuízos do fazer artístico.
O artigo na íntegra pode ser ligo AQUI.