Especial: Florestan, 100 anos

Podem Florestan Fernandes e Celso Furtado oferecer instrumental teórico-metodológico para a compreensão no tempo presente?

A partir de leitura fundamentada no materialismo histórico dialético, Florestan Fernandes se debruçou sobre diversos temas na tentativa de compreender a realidade brasileira e de criar condições para uma intervenção transformadora sobre esta realidade. Neste sentido, as cuidadosas análises concretas de situações concretas possibilitaram que a produção intelectual do sociólogo se tornassem indispensáveis para a compreensão não apenas de seu tempo histórico, mas também servissem como instrumental teórico-metodológico capaz de oferecer possibilidades de compreensão do presente.

É neste sentido que se desenvolve o artigo Interpretando o fim do ciclo 1988-2016: pode a “parceria” Furtado e Florestan fornecer novas pistas teóricas e metodológicas para entender o presente passado? de Alexandre de Freitas Barbosa, publicado na mais recente edição da Revista Novos Rumos (IAP / FCC-Unesp). A partir da análise das divergências, mas sobretudo, das confluências entre a produção de Florestan Fernandes e Celso Furtado, Barbosa procura colocar em evidência a contribuição destes dois fundamentais nomes do pensamento social brasileiro para o entendimento do fim de um ciclo político que teve como marco inicial a Nova República “fundada” com a promulgação da Constituição de 1988 e seu desfecho no Golpe jurídico-parlamentar-midiático que destitui a presidenta eleita Dilma Rousseff.

De acordo com o autor, embora partissem de perspectivas distintas, as transformações políticas, econômicas e sociais no Brasil dos anos 1950-1960, em especial o Golpe Militar de 1964, possibilitaram a convergência de interpretações de Furtado e Florestan. Nas palavras de Barbosa,

As trajetórias intelectuais e teóricas de Furtado e Florestan correm paralelas durante os anos 1950, espelhando seus espaços de atuação e de socialização. Estes personagens compõem dois “fragmentos de geração” que pensaram o desenvolvimento no Brasil a partir dos seus respectivos quadros conceituais. Existem pontos de convergência e de divergência entre eles. Mas neste primeiro momento, em virtude dos enfoques respectivos, econômico ou sociológico, bem como das cidadelas de atuação, o Estado ou a academia, as divergências predominam. Ainda assim, os atritos não deixam de revelar um substrato comum, que se amplia no pós-1964

BARBOSA, A. F. Interpretando o fim do ciclo 1988-2016: pode a “parceria” Furtado e Florestan fornecer novas pistas teóricas e metodológicas para entender o presente passado? Revista Novos Rumos, Marília, v. 57, n. 1, p. 109-130, Jan.-Jun., 2020.

Representando diferentes “fragmentos” de uma mesma geração, Florestan e Furtado amargaram a profunda derrota que foi o Golpe de 64 por perspectivas distintas.

Se para Florestan, o seu fragmento de geração foi “perdido” por ter “transcendido as possibilidades da história” 43 – talvez até porque sobre ela pouco tenha tentado interferir, para além da atividade científica, e também pela ausência de protagonistas históricos -, o fragmento de geração que Furtado passa a liderar, no pós-1959, talvez tenha sido “vencido”, pelas ilusões ou tentativas frustradas de quem estava “interpretando” na linha de frente da batalha, enquanto as coordenadas da história passavam por um freio de arrumação. Ao fim e ao cabo, os horizontes teóricos deixam de ser paralelos e passam por processos de mútua interação, o que talvez se explique pelo bombardeio dos seus respectivos espaços de atuação e socialização no pós-1964, mas também porque havia premissas comuns, até então invisíveis, entre estes dois estilos de interpretação.

Idem.

A possibilidade de compreender que o passado colonial escravista, as estruturas de poder e de privilégio de classe se projetam no futuro, realçando seu caráter permanente na história brasileira permite à Barbosa tecer uma minuciosa análise do ciclo 1988-2016 partindo das bases interpretativas que “unem” Furtado e Florestan em suas concepções sobre o Golpe de 64.

O artigo na íntegra pode ser lido AQUI.

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