A importância dos arquivos do movimento operário para a historiografia social e política do trabalho

Por Marcos Del Roio

A historiografia social e política do trabalho no Brasil contou com precursores decisivos entre militantes do movimento operário, no mais das vezes ao modo de indicações sobre fatos importantes ou de memórias. Na época sombria da ditadura militar burguesa a Universidade estadunidense desenvolveu pesquisas importantes sobre o movimento operário brasileiro, beneficiados por recursos adequados e pelo acesso à documentação. Certo que para os brasileiros a empreitada era bem mais difícil, exatamente pela carência de recursos e pelas inevitáveis suspeitas dos guardiões da ordem.

O interesse pela história do movimento operário cresceu na Europa na medida em que os partidos operários se fortaleciam e aumentavam a sua influência, com o surgimento de historiadores de muita envergadura e que serviam de exemplo para os brasileiros. O interesse pela história da luta da classe operária se ampliou no Brasil com o fortalecimento da resistência popular democrática contra a ditadura dos Generais. A preocupação em colher a memória oral de antigos militantes e a documentação tornada disponível foram de crucial importância tendo dado origem a arquivos que pudessem ordenar esse material.

Os maiores exemplos foram a formação do Arquivo de História Social Edgar Leuenroth na UNICAMP e o Archivio Storico del Movimento Operaio Brasiliano – Asmob. Este foi organizado junto a Fondazione Giangiacomo Feltrinelli, em Milão, Itália, por brasileiros que ali viviam e por alguns colaboradores italianos. Foi a transferência para Milão do acervo deixado por Astrojildo Pereira que o Asmob teve início. Com o passar do tempo outros importantes acervos forma incorporados, como o de Roberto Morena e amplo material recolhido das organizações de resistência a ditadura.

O Asmob recebeu vários pesquisadores brasileiros e de outros Países, todos interessados na vida da classe operária brasileira e das organizações que pretendiam serem suas representantes. Importantes exposições e seminários foram um meio para denunciar a opressão política no Brasil. Produto da exposição e seminário sobre trabalhadores migrados para o Brasil foi o pequeno e precioso volume Trabalhadores do Brasil: imigração e industrialização, organizado por José Luiz Del Roio, publicado pela Editora da USP e pela Ícone editora, em 1990.

trabalhadores do brasil capa

Uma iniciativa importante para difundir no Brasil o material constante no Asmob foi a publicação de reprints de coleções, com destaque para A voz do trabalhador, A vida, O homem livre. Outro caminho para difundir o material do Asmob no Brasil foi a publicação da revista Memória & História, da qual foram produzidos três números, um sobre Astrojildo Pereira (1980), outro sobre Cristiano Cordeiro (1981) e o último sobre Roberto Morena (1987).

Em 1994, o Asmob retornou ao Brasil, tendo-se agregado ao Instituto Astrojildo Pereira e tornado disponível aos pesquisadores junto ao Centro de Documentação e Memória da UNESP, na cidade de São Paulo.

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