Por Marcos Del Roio*
[No texto Imperialismo e a Cisão do Socialismo [1], publicado em dezembro de 1916] Lenin interroga sobre a relação entre o imperialismo e a vertente reformista do socialismo, a qual ele identifica com a categoria de oportunismo, cuja característica distintiva é a proposição de colaboração entre as classes sociais antagônicas do capitalismo e a capitulação ideológica frente o nacionalismo imperialista. Lenin entende o imperialismo como uma fase do capitalismo caracterizada pelo monopólio e pelo parasitismo, que seriam indícios do declínio dessa forma social. Pode-se, passado um século, contestar se o capitalismo estava mesmo em declínio e mesmo perguntar se o parasitismo não seria uma característica intrínseca do capitalismo, apenas aguçada no momento do predomínio do capital financeiro. Outro elemento para o qual Lenin chama a atenção é a que a situação de agonia do capitalismo indicava já o início da transição socialista, antes mesmo que a revolução fosse feita, pois se configurava já um capitalismo monopolista de Estado, a antessala da transição. O oportunismo teve início na Inglaterra,pois por longo tempo a Inglaterra teve o monopólio da indústria e do mercado mundial, mas a situação havia mudado claramente no início do século XX. Outros países se industrializavam e lutavam por espaço no mercado mundial e no mundo colonial, o que exigiu que se criasse uma camada superior da classe operária, uma “aristocracia” que respaldasse a política imperialista da oligarquia financeira. O apoio custava a possibilidade de melhores condições de vida, de salários, de direitos a essa parte da classe operária.

De fato, a hegemonia burguesa se construía com a ampliação do estatuto de cidadania para camadas qualificadas dos trabalhadores e da pequena burguesia em troca do respaldo a expansão imperialista, em claro nexo entre democracia burguesa e imperialismo, entre oportunismo e imperialismo. A ideologia nacional-liberal da burguesia foi capaz, em suma, de arrastar, de persuadir, amplas massas populares a irem à guerra. Claro que isso tinha outra implicação, que foi a de fazer com que a ideologia da classeoperária organizada e de seus teóricos mais notáveis, também ficassem subordinadas à visão de mundo da burguesia liberal e do Estado nacional imperialista. Assim, Lenin notou que as forças em campo estavam distribuídas de modo a postar a burguesia imperialista e seus aliados –a pequena burguesia e a “aristocracia operária” –de um lado, e de outro lado as massas proletárias dos Países imperialistas e os povos submetidos da imensa zona colonial. Note-se então que para Lenin a época imperialista havia avançado um deslocamento de classes que fez das camadas superiores da classe operária inimiga da massa proletária e dos povos dominados. Da mesma maneira no seio da burguesia havia se formado uma oligarquia financeira que se encontrava no cume da classe dominante. O partido e o sindicato da classe operária dentro da democracia burguesa organizamuma parte do proletariado, exatamente a parte que aufere benefícios dentro do Estado burguês. Essas organizações também devem ser desarticuladas no processo revolucionário e esse deve ser conduzido por uma política marxista revolucionária que se aprofunde nas massas populares proletárias que estão abaixo e fora do Estado burguês liberal-democrático.
O texto Imperialismo e a Cisão do Socialismo foi publicado na seção Documentos da Revista Novos Rumos, V.51, n.2, 2014 e pode ser acessado AQUI
*Marcos Del Roio é Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UNESP (Marília) e Presidente do Instituto Astrojildo Pereira.
[1] LENIN, V. Obras escogidas en seistomos. Lisboa: Edições “Avante!”, t. 3, 1986.